quinta-feira, 30 de setembro de 2010

CHILDHOOD


Realmente é impressionante como certas coisas aparentemente banais podem deflagrar um turbilhão de sentimentos, emoções e saudades. Uma viagem no tempo proporcionou-me um retorno a uma época da minha vida em que eu talvez fosse feliz e soubesse, uma época em que todos os dias tinham o frescor de novidade, todas as noites tinham o aroma de inúmeros futuros empolgantes, e as madrugadas pareciam longas o bastante para que fossem vividas mil vidas.

Houve um tempo em que as amizades pareciam reais (e o eram). Momentos em que o mundo, moinho insensível que é, ainda não havia forjado em mim, a ferro e fogo, cicatrizes indeléveis na alma e no coração. Uma época em que havia sim, inocência e esperanças. Melhor ainda, havia uma infinidade de possibilidades e uma juventude que não aparentava querer ir embora.

Mas tudo vai embora. A juventude, a energia, a paciência, a esperança. Os amigos somem - o tempo, a distância, a morte chega e nos toma a intimidade, legando apenas as lembranças sorridentes e alcoolizadas, os abraços sonolentos e satisfeitos, as conversas alteradas pela paixão e pelas certezas inabaláveis que em breve foram desmentidas pela realidade.

É triste perceber que tempos assim não serão mais recuperados. No máximo podem ser relembrados e comemorados melancólicamente de vez em quando. Seria bom se pudéssemos prender esses momentos que tanto nos encheram de felicidade em outro lugar que não as memórias. Teria sido ótimo se tivéssemos tido a inteligência de notar que ali estava o melhor tempo de nossas vidas.

"Permanece intacta aquela perfeição singular, perfeita em parte porque parecia, na época, tão claramente prometer mais. Agora sabe: aquele foi o momento, bem ali. Não houve outro." (Michael Cunningham, "As horas")

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Anguish


Quem me olha não me vê. Quem fala comigo não me escuta. É impressionante como o que se passa na minha alma é invisível aos olhos e ouvidos de quem me rodeia. Uma angústia desesperada me corrói dia a dia, um peso incomensurável se abate em meus ombros, uma dor indescritível me machuca por inteiro e só o que posso fazer é beber, me anestesiar paliativamente de uma tristeza que só me faz chorar. Choro por dentro, em companhia de outras pessoas. Choro desbragadamente sozinha, em casa. Diante da TV, diante do computador, diante da geladeira, diante do espelho. Diante de uma vida tão insuportável que chega a me fazer sangrar. Diante da luz do dia, que me empurra para a escuridão dos pesadelos.

Não há saídas na minha vida. Não há um caminho a escolher que me faça vislumbrar uma felicidade, ainda que fugidia. Me sinto sozinha, dona de uma solidão que parece me amassar os órgãos vitais, me sufocar pouco a pouco, ou em certas ocasiões, muito a muito. Minha solidão é maior do que simplesmente não ter a quem abraçar na cama. Minha solidão alcança a alma.É devastador perceber que se chegou a determinada altura da vida em que só o que me resta fazer é olhar pra trás e perceber os inúmeros erros que cometi, as escolhas equivocadas que fiz, as oportunidades que perdi, as pessoas que magooei. Eu não tenho pra onde ir, pra onde correr, onde me esconder. Tenho só a mim mesma. E sou um fracasso completo.

Perdi a única pessoa que amei e que me amou de volta. Não fui capaz de dar a ele a certeza do meu amor, a segurança dos meus sentimentos. Não cheguei nem mesmo a tocar seus lábios, a sentir seu cheiro, a experimentar a sensação de seu orgasmo. Nunca cheguei tão perto da felicidade e a perdi tristemente. Nunca me senti tão amada e esse sentimento me foi arrancado. Nunca encontrei alguém tão próximo a minha alma... e talvez justamente por isso o tenha afastado.

Eu não tenho nada, não sou ninguém, não tenho nenhum talento especial. Não sou bonita, não sou particularmente inteligente, não tenho nem ao menos dinheiro pra poder comprar substitutos para tudo isso. Não tenho nem coragem de romper com o marasmo e a infelicidade da minha vida de merda. Só o que faço é tentar sobreviver pesadamente em um mundo que me dá nojo. É manter-me viva porque foi isso que me ensinaram a fazer.

Só três coisas nessa vida me fariam o milagre de ser feliz: ser outra pessoa, completamente diferente do que sou, ter a permissão de quem me prende para ir embora daqui ou ter você me fazendo feliz pelo resto da minha vida. Se nada disso acontecer, serei uma morta-viva esperando o final dessa angústia sem voz.